Os Livros Nunca Perderam seu Espaço

Os livros nunca perderam seu espaço — e, no fundo, todos nós sabemos disso. Mesmo em um mundo inundado por telas, notificações e feeds infinitos, eles continuam ali, firmes, quase teimosos, ocupando um território que nenhuma outra plataforma conseguiu roubar: o lugar onde a mente respira e a imaginação desperta.

Há algo de profundamente humano no ato de abrir um livro. Ele não exige bateria, atualização ou senha. Não trava, não reinicia, não te empurra anúncios. Um livro só pede presença — e, em troca, oferece mundos inteiros. Carrega dedicatórias, marcas de dedo, páginas amareladas, lembranças de quem fomos e pistas de quem podemos ser. É uma tecnologia silenciosa, ancestral e incrivelmente resistente.

Mesmo quando o digital avançou com força, os livros não se encolheram. Ao contrário, ganharam novos formatos, novas portas de entrada, novos leitores. Hoje passamos do celular ao papel com naturalidade. Lemos no ônibus, ouvimos no carro, abraçamos o volume físico antes de dormir. Não existe competição entre formatos; existe convivência. E essa convivência só fortalece a leitura.

Os livros permanecem porque entregam algo raro: profundidade em meio ao ruído, pausa em meio à velocidade, sentido em meio ao caos. Eles acolhem, provocam, ressignificam. São companheiros discretos, mas poderosos. No momento certo, uma frase abre janelas. Um parágrafo inteiro nos realinha. Um capítulo muda o dia — às vezes, muda a vida.

E há a magia, sempre ela. A primeira página que se abre como quem convida, o cheiro do livro novo ou antigo, o sublinhado improvisado, o marcador esquecido entre capítulos. Tudo isso segue exatamente igual, ainda que o mundo não pare de se reinventar. Livros são uma espécie de permanência bonita em tempos que insistem em ser fugazes.

Dizem que o futuro é digital. E é mesmo. Mas ele também é feito de papel, tinta, histórias e almas que se encontram nas entrelinhas. Porque enquanto existirem pessoas buscando significado, existirão livros. E enquanto existirem livros, jamais faltará espaço para imaginar, refletir e sonhar.

Regina Rocha – Psicopedagoga e editora da Provérbios.

Categorias